O cú e as calças, uma relação de proximidade
O meu tio Humberto era uma simpática figura de gargalhada fácil e de descontração. Muito conhecido em Angola onde trabalhava nos caminhos de ferro, como engenheiro inspector, foi sempre considerado pelos seus pares um excelente técnico em cálculo de esforço. Era um grande conversador e dotado de uma sensibilidade para a música, assobiando sempre as suas árias preferidas. Era pouco discreto nas suas explosivas gargalhadas que o identificavam de imediato, e contagiava quem o ouvia. Enfim, um homem bem disposto para a vida e tirando dela partido em tudo o que podia. Alguns na família diziam que ele tinha pancada, mas outros riam-se muito com o tio.
São muito conhecidos de toda a família episódios com o tio Humberto figura que com o irmão, o nosso tio Agostinho Marques Trindade, faziam um núcleo de membros da família, à volta do qual giravam muitas histórias de descontração, e que dezenas de anos após desaparecerem ainda a familia os recorda e se ri.
Durante a visita do Governador Geral de Angola o Agapito ao porto do Lobito, ele fazia parte da comitiva que acompanhava aquele dirigente, não só porque se tratava de uma obra dos Portos e Caminhos de Ferro, mas porque o Agapito fazia questão de que o Humberto, que conhecia há muito, estivesse presente.
A certo momento, num comentário sobre a obra que estavam visitando, foi respondido pelo Humberto de forma lateral, o que levou o Agapito a perguntar-lhe. Óh Humberto que tem a ver o cú com as calças. Esta era a forma do Agapito lidar com as situações. Frontal e directo. Mas o Humberto, que não lhe ficava atrás, por isso mesmo até eram amigos, respondeu-lhe, mantendo o respeito pelo governante, já que havia mais pessoas por perto, "que a relação era de proximidade senhor governador". Desmancharam-se todos a rir e o episódio passou à história.
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