21.5.05

O Lobito - Recordações da juventude

Olá Amigos

Estando os meus avós a residir no Lobito, habituei-me desde muito tenra idade e viver naquela terra, onde passei sempre os três meses de férias, até que em 1963, ali passei a residir. Em 1968 fui cumprir o serviço militar e mantive sempre contacto com aquela terra, e despedi-me dela definitivamente em Outubro de 1975, com os olhos a não conterem as lágrimas, quando me fui despedir de meus avós que entenderam prosseguir a sua permanência no Lobito o que aconteceu até 1984, se não estou errado.
É por isso que embora não nascido no Lobito eu me sinto um Lobitanga já que os melhores amigos e com os quais me correspondo, foram ganhos e cimentados nas traquinices da nossa mocidade ali passada.

Graças à Sanzalangola reencontrei muitos de quem nada sabia, conheci outros que sabia existirem mas que não nos havíamos ainda cruzado, e principalmente acabei reencontrando os ténues fios que me ligam ao meu passado, e que agora, depois de reformado, e com mais tempo disponível, quero reforçar. È que se para muitos a terra deles está acessível a umas horas de viagem de automóvel, para nós angolanos, longe da terra que nos viu nascer, acabamos por sentir necessidade de manter acesas e vivas as recordações da nossa juventude como forma de nos afirmarmos como tendo passado.

Nem sempre a disposição para escrever è a melhor, mas vou lendo e mantenho-me atento ao que se vai dizendo e escrevendo, e vou recebendo e arquivando fotos antigas e actuais daquela cidade maravilhosa, que a todos proporcionou um crescimento na juventude, revestido de uma qualidade impar.

A primeira casa que me recordo de viver no Lobito foi numa casa que tinha uma varanda enorme em madeira, virada para a baía, ao lado de uns armazéns de vinho do Teotónio Pereira, onde anos mais tarde na década de sessenta a Mocidade Portuguesa tinha o estaleiro e armazém das embarcações de remo.
Ainda me recorda a primeira vez que fui com meu avô ver o terreno onde seria construída a nossa casa, na ponta da restinga, um extenso areal com coqueiros e casuarinas para a retenção das areias. Estávamos em mil novecentos e cinquenta e um e recordo-me bem desta data porquanto tenho uma foto dos meus cinco anos feitosd no Lobito, e a minha memória associou essa data com a construção da casa . Nada ali havia em redor e até à ponta do farol haveria talvez mais umas três ou quatro vivendas.

O local transformou-se num aprazível lugar com um jardim tratado e onde estava o Poeta, uma escultura de autoria do Dr. Canhão Bernardes, numa casa e que, hoje ao rever as imagens recentes, vejo o abandono em que se encontra, sem os quatro enormes coqueiros que lhe davam uma protecção aos excessivos raios solares, e sem os cuidados que meu avô Madeira lhe dedicava, mantendo sempre a pintura de azul celeste, de que hoje existe uma muito pálida imagem. A praia frente ao jardim está muito diferente, com os avanços da água das marés que lhe foi retirando areia e acabou destruindo as casuarinas que ali havia. Mesmo de frente de nossa casa foi ali construído um paredão com cerca de trinta metros pois o avanço das águas nos finais dos anos cinquenta assim o obrigou. Desse paredão pescava em dias de maré-alta, e por ele subia e descia. No extremo desse paredão, para o lado sul, reencontrei o coqueiro que ali plantei em 1970, quando em Março, por altura da calema, vi aquela planta a ser arrastada pelas águas que atravessavam a restinga, vindas do alto do mar, junto às velhas casas onde moravam os Diniz. Como que agradecida, a planta vingou e cresceu transformando-se num belo coqueiro.

Recordo também os momentos em que estando na água do lado da baía, me chamavam de casa, com um apito, para ir almoçar. Uma passagem pelo jardim e uma mangueirada de água doce, subir as escadas, vestir a roupa seca e logo após o almoço, o regresso às lides marinhas… Que qualidade de vida. Falo nisto a meus filhos, naturais também, de Angola, mas dali saídos com dois e três anos, e que portanto não haviam vivido e beneficiado de tais mordomias…

Eu estudei no Colégio Camões, onde fui fazer o meu quinto ano. Como era um jovem bastante encorpado, comparativamente como os meus colegas, um deles, de nome Pita, e de quem nada sei desde essa altura, apelidou-me de BigJoe, e assim acabei sendo mais conhecido pela alcunha que pelo meu nome.

Segue oportunamente.